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Antes que você morra

Com a sua mente, você pode sentir a multidão sempre com você, à sua frente e atrás de você. Muitos estão se movendo nela; é uma autoestrada, concreta, sólida e que lhe dá uma sensação de segurança. Com o coração você está só, ninguém está com você. O medo o pega, o possui, toma conta de você. Para onde você está indo?

Agora você não sabe mais, porque quando você se move numa estrada com a multidão, você sabe aonde vai porque pensa que a multidão sabe. E todos estão na mesma posição; todos pensam: “Tanta gente andando, devem estar indo a algum lugar; de outro modo, porque tanta gente, milhões de pessoas se movendo? Devem estar se dirigindo a algum lugar”. Todos pensam assim.

Na verdade, a multidão não vai a lugar algum. Jamais uma multidão chegou à meta alguma; a multidão continua a caminhar. Você nasce e se torna parte dela e a multidão já estava caminhando antes de você nascer. E chega um dia em que você acaba, você morre e a multidão continua a caminhar, porque sempre há gente nova nascendo.

A multidão nunca chega a lugar algum — mas ela dá uma sensação de conforto. Você se sente aconchegado, rodeado de tantas pessoas mais sábias, mais velhas e mais experientes que você; elas devem saber para onde estão caminhando — e você se sente seguro.

Quando você começa a cair em direção ao coração, você fica só; agora ninguém pode estar ali com você. Você, na sua solidão total, ficará temeroso e assustado. Agora não saberá para onde está indo, porque ninguém está ali e não há marcos de referência. Na verdade, não há um caminho sólido, concreto. O coração não está mapeado, medido, cartografado. Só haverá um tremendo medo.

Todo o esforço deve ser para não ter medo, porque somente através do coração é que você renascerá. Mas antes de renascer, você terá que morrer. Ninguém pode renascer antes de morrer. Se você morre, fica disponível a fontes infinitas de vida. Na verdade, você morre na sua forma presente; ela ficou estreita demais. Nela você apenas sobrevive, você não vive.

A tremenda possibilidade da vida está completamente fechada, e você se sente confinado, preso. Você sente, em todas as partes, uma limitação, uma prisão. Uma parede, um paredão de pedra surge em cada lugar para onde você se dirige — uma parede.

Todo o esforço é de como quebrar estas paredes de pedra. E elas não são feitas de pedras, mas de pensamentos. E nada é mais rochoso o que um pensamento; eles são feitos de dogmas, de escrituras. Eles o cercam e onde quer que vá, você os carrega junto. Você carrega sua prisão; ela está sempre pendurada à sua volta. Como rompê-la?

A quebra das paredes parecerá uma morte para você. E éde certo modo, porque sua identidade atual será perdida. Seja você quem for, sua identidade será perdida; você não será mais. E se você olhar para trás, não terá a sensação de que era real tudo aquilo que existia antes desta ressurreição. Não, parecerá como se fosse um sonho, ou como se você tivesse lido em algum lugar, uma ficção, ou como se alguém tivesse contado sua própria estória e que jamais fora sua, mas de outra pessoa.

O velho desaparece completamente. Eis por que chamamos isto de morte. Um fenômeno absolutamente novo passa a existir, e lembre-se da palavra “absolutamente”. Não é uma forma modificada do velho, nãotem conexão alguma com o velho; trata-se de uma ressurreição. Mas a ressurreição só é possível quando você for capaz de morrer.

Adaptado do livro Antes que você morra – Osho

Silêncio e Paz

A vida da maioria das pessoas é um amontoado desordenado de coisas: itens materiais, tarefas a fazer questões sobre as quais pensar. A mente dessas pessoas é ocupada por um emaranhado de pensamentos, um após o outro.

Porém, além de estarmos conscientes das coisas – que sempre se resumem a preocupações, pensamentos e emoções – existe um estado subjacente de atenção. Isso quer dizer que temos consciência não apenas das coisas (objetos), como também do fato de que estamos conscientes.

É o que ocorre quando somos capazes de sentir um silêncio interior sempre alerta de fundo enquanto os eventos acontecem no primeiro plano. Você é capaz de sentir sua própria presença.

Quando não estamos totalmente identificados com as formas, a consciência – quem nós somos – se vê livre do seu aprisionamento na forma. Existe espaço entre nossos pensamentos. Desse espaço emana uma paz que não é “deste mundo”, porque este mundo é forma, enquanto a paz é espaço. Essa é a paz de Deus.

Dessa maneira, podemos desfrutar e estimar as coisas e os eventos sem lhes atribuir uma importância que eles não têm.

Estamos em condições de participar da dança da criação e de ser ativos sem nos apegar ao resultado e sem impor exigências pouco razoáveis em relação ao mundo, como “satisfaça-me”, “faça-me feliz”, “faça-me sentir mais seguro”, “diga-me quem sou”.

O mundo não pode nos dar nada disso, e quando deixamos de ter essas expectativas, todo o sofrimento que nós mesmos criamos chega ao fim.

Assim, podemos aproveitar as coisas, as experiências e os prazeres sensoriais sem nos perdermos neles, sem nos apegarmos internamente a nada disso, isto é, sem nos tornarmos viciados no mundo.

Sempre que as coisas assumem uma importância absoluta, uma seriedade e um peso que na verdade elas não têm, toda vez que o mundo não é visto da perspectiva do que não tem forma, da dimensão da consciência, ele se torna um lugar ameaçador e em última análise, de desespero.(…)

Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas do fluxo do pensamento. Sem elas, o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa – e é assim que ele é para a maioria das pessoas.

Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam.

Aos poucos elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço da nossa parte.

Mais importante do que fazer com que sejam longas, é criá-las com frequência para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamento sejam entremeados com espaços de silencio e paz.

Adaptado do livro Em Comunhão com a Vida de Eckhart Tolle

Nada é permanente

Havia um rei muito poderoso que tinha tudo na vida, mas sentia-se confuso. Resolveu consultar os sábios do reino e disse-lhes:

– Não sei por que me sinto estranho e preciso ter paz de espírito. Preciso de algo que me faça alegre quando estiver triste e que me faça triste quando estiver alegre.

Os sábios resolveram dar um anel ao rei, desde que o rei seguisse certas condições:

– Debaixo do anel existe uma mensagem, mas o rei só deverá abrir o anel quando ele estiver num momento intolerável. Se abrir só por curiosidade, a mensagem perderá o seu significado. Quando TUDO estiver perdido, a confusão for total, acontecer a agonia e nada mais se puder fazer, aí o rei deve abrir o anel.

O rei seguiu o conselho. Um dia o país entrou em guerra e perdeu. Houve vários momentos em que a situação ficou terrível, mas o rei não abriu o anel porque ainda não era o fim. O reino estava perdido, mas ainda podia recuperá-lo. Fugiu do reino para se salvar. O inimigo o seguiu, mas o rei cavalgou até que perdeu os companheiros e o cavalo. Seguiu a pé, sozinho, e os inimigos atrás; era possível ouvir o ruído dos cavalos. Os pés sangravam, mas tinha que continuar a correr. O inimigo se aproxima e o rei, quase desmaiado, chega à beira de um precipício. Os inimigos estão cada vez mais perto e não há saída, mas o rei ainda pensa:

– Estou vivo, talvez o inimigo mude de direção. Ainda não é o momento de ler a mensagem…

Olha o abismo e vê leões lá embaixo, não tem mais jeito. Os inimigos estão muito próximos, e aí o rei abre o anel e lê a mensagem:

“Isto também passará”.

De súbito, o rei relaxa. Isto também passará e, naturalmente, o inimigo mudou de direção. O rei volta e tempos depois reúne seus exércitos e reconquista seu país. Há uma grande festa, o povo dança nas ruas e o rei está felicíssimo, chora de tanta alegria e de repente se lembra do anel, abre-o e lê a mensagem:

“Isto também passará”.

Novamente ele relaxa, e assim obtém a sabedoria e a paz de espírito.

A Verdadeira Alquimia

Certa vez um andarilho apareceu numa aldeia da Idade Média. Dirigiu-se à praça central da cidade, anunciou-se como alquimista e disse que ensinaria como transformar qualquer tipo de metal em ouro. Algumas pessoas pararam para ouvi-lo e alguém lhe entregou uma ferradura e um prego. O alquimista então pegou ambas as peças, e ainda sob as risadas dos incrédulos, colocou-as numa pequena vasilha e derramou sobre elas o conteúdo de um frasco que havia retirado de sua sacola.

Permaneceu alguns segundos em silêncio e o fenômeno aconteceu: a ferradura e o prego tornaram-se dourados. Uma sensação de espanto percorreu a multidão que se avolumava cada vez mais na praça. O alquimista levantou as peças de ouro para que todos pudessem admirar a transmutação. Um ourives presente no local atestou serem as peças de ouro puríssimo como nunca tinha visto. O alquimista então pegou um grosso livro de sua sacola e disse estar nele o segredo da transmutação dos metais em ouro.

Em seguida, entregou o livro a uma criança próxima e partiu tranquilo. Poucos dias depois, a maioria das pessoas possuía uma cópia do valioso manuscrito, assim a receita para produzir ouro passou a ser conhecida por todos. Contudo, a fórmula era complexa. Exigia água destilada mil vezes no silêncio da madrugada e ingredientes que deveriam ser colhidos em noites especiais e em praias distantes. No início todos puseram as mãos à obra, mas com o passar do tempo, as pessoas foram desistindo do trabalho.

Era muito penoso ficar mil noites em silêncio esperando a água destilar. Além disso, procurar os outros ingredientes era muito cansativo. As pessoas foram desistindo. E, à medida que desistiam, tentavam convencer os outros a fazerem o mesmo. Diziam que a forma era apenas uma galhofa deixada pelo alquimista para mostrar como eram tolos. Assim, muitos e muitos outros, influenciados pelos primeiros, também desistiram. Mas, um pequeno grupo prosseguiu com o trabalho. Apesar de ridicularizados pelo resto da aldeia, continuaram destilando a água e fizeram várias viagens juntos à procura dos ingredientes da fórmula.

O tempo correu, e a quantidade de histórias divertidas, e de situações que eles passaram juntos, desde que começaram a seguir a fórmula, cresceu. E o grupo dos aprendizes de alquimia tornou-se cada vez mais unido. Converteram-se em grandes amigos. Até que em um mesmo dia, todos que tinham começado juntos, viraram a última página das instruções do livro, e lá estava escrito:

“Se todas as instruções foram seguidas, você tem agora o líquido que, derramado sobre qualquer metal, transforma-o em ouro. Entretanto, agora você já percebeu que a maior riqueza não está no produto final obtido, mas sim no caminho percorrido. O que nos torna infinitamente ricos não é a quantidade de ouro que conseguimos produzir, mas os momentos que compartilhamos com os verdadeiros amigos”.

A felicidade pode ser encontrada através de alguma coisa?

A mente não pode encontrar a felicidade. A felicidade não é uma coisa a ser perseguida e encontrada, como a sensação. A sensação pode ser encontrada vezes e mais vezes, porque está sempre sendo perdida; mas a felicidade não pode ser encontrada.

A felicidade relembrada é só uma sensação, uma reação a favor ou contra o presente. O que está acabado não é felicidade; a experiência de felicidade que está acabada é sensação, pois lembrança é o passado e o passado é sensação. Felicidade não é sensação.  

O que você conhece é o passado, não o presente; e o passado é sensação, reação, memória. Você lembra que foi feliz; e pode o passado dizer o que é felicidade?

Ele pode lembrar, mas não pode ser.

Reconhecimento não é felicidade; saber o que é ser feliz, não é felicidade. Reconhecimento é a resposta da memória; e pode a mente – o complexo de memórias, experiências – ser feliz?

O próprio reconhecimento impede o experimentar. Quando você está cônscio de que está feliz, existe felicidade? Quando há felicidade, você está cônscio dela? A consciência só surge com o conflito; o conflito da lembrança do mais. Felicidade não é a lembrança do mais.

Onde existe conflito, a felicidade não está. Conflito é onde a mente está.

O pensamento, em todos os níveis, é a resposta da memória e assim, invariavelmente, nasce o conflito. Pensamento é sensação e sensação não é felicidade. As sensações estão sempre buscando gratificações.

O fim é sensação, mas a felicidade não está no fim; ela não pode ser buscada. Nós buscamos felicidade através de coisas, relações, pensamentos, ideias. Então as coisas, a relação e as ideias se tornam mais importantes que a felicidade.

Quando você busca felicidade através de uma coisa, então a coisa se torna de maior valor que a própria felicidade.

Quando apresentado desta maneira, o problema parece simples e é simples. Buscamos felicidade na propriedade, na família, no nome; então propriedade, família, ideia se tornam o mais importante, porque assim a felicidade é buscada através de um meio, e o meio destrói o fim.

Pode a felicidade ser encontrada através de algum meio, através de alguma coisa feita pela mão ou pela mente?

Coisas, relação e ideias são muito visivelmente inconstantes; ficamos sempre infelizes por elas. As coisas são inconstantes, elas se gastam e se perdem; relação é constante atrito e a morte aguarda; ideias e crenças não têm estabilidade nem permanência.

Buscamos felicidade nelas e, contudo, não percebemos sua inconstância. Assim, o sofrimento se torna nossa companhia constante e, superá-lo, nosso problema. Para descobrir o verdadeiro significado da felicidade, devemos explorar o rio do autoconhecimento. O autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe uma fonte para uma correnteza? Cada gota de água do início ao fim faz o rio. Imaginar que vamos encontrar felicidade na fonte é estar enganado.

Ela é para ser encontrada no ponto em que você está no rio do autoconhecimento. Podemos sair de um refinamento para outro, de uma sutileza para outra, de uma satisfação para outra, mas no centro de tudo isto está o “eu”; o “eu” que está se satisfazendo, que quer mais felicidade; o “eu” que procura, busca, deseja felicidade; o “eu” que luta; o “eu” que se torna mais e mais refinado, mas não gosta de chegar a um fim. Só quando o “eu”, em todas as suas formas sutis, chega a um fim, há um estado de alegria que não pode ser buscado; um êxtase, um contentamento real sem dor, sem corrupção.

Quando a mente vai além do pensamento do “eu”, do experimentador, do observador, do pensador, então existe a possibilidade de uma felicidade não corruptível. Essa felicidade não pode ser permanente, no sentido em que usamos essa palavra. Mas nossa mente busca felicidade permanente, alguma coisa que vá durar, que continuará. Esse próprio desejo de continuidade é corrupção. Se pudermos compreender o processo da vida sem condenar, sem dizer que está certo ou errado, então
acho que surge uma felicidade criativa que não é “sua” ou “minha”.

Essa felicidade criativa é como o brilho do sol. Se você quiser manter o brilho de sol para você mesmo, não é mais o sol claro e quente que dá vida. Do mesmo modo, se você quer felicidade porque está sofrendo, ou porque perdeu alguém, ou porque não teve sucesso, então isso é meramente uma reação. Mas quando a mente pode ir além, então existe a felicidade que não está na mente.

Extraído do livro The Book of Life de J. Krishnamurti

Autoconhecimento

A ciência Ocidental tem optado pelo lado material, pelo invólucro das coisas, sem prestar atenção ao seu interior. O autoconhecimento a que me refiro não é o conhecimento do vosso corpo e da matéria de que é feito, porém, o exame profundo do vosso “Eu”.

Com Vigilância, Intenção e o Sentir, podeis começar o vosso exame interior. O segredo está, como já vos disse, em não fazer esforço, em observar-se sem condenar-se e sem defender-se. O autoconhecimento através da autovigilância é um ato intencional que nos levará ao profundo sentimento de amor para conosco mesmos, primeiro passo para poder estender esse amor aos outros e ao infinito.

Pensais que seja difícil observar-se? Pensais em concentrações? Objetareis que precisais de um guru para orientar vossa meditação. Vou mostrar-vos o quanto é fácil, usando um sistema que veio do oriente e cujo “roubo” os Yogues vos perdoam pela utilidade que vos possa trazer: a psicanálise, o sofá do psiquiatra.

Tendes um problema, uma neurose, um recalque, ou outro desajustamento qualquer? Deitai-vos no divã. Soltai vossa taramela interior. Caminhai de fato em fato até que toqueis naquele que, jogado ao vosso mundo interior oculto, fora do vosso controle, recalcado e esquecido, causou-vos os malefícios de que vos queixais. Tão logo encontrais a causa e a aceitais, sem crítica, sem condenação e também sem aprovar, eis que o problema todo se esfuma como que por encanto. Isto os psicanalistas sabem fazer. Vós podeis fazer, sempre que tiverdes problemas, frustrações, conflitos, com essa vigilância eles sumirão. O psiquiatra, no entanto, não entende a causa de tal milagre. Explico-os: vosso ego é um conjunto de véus ou vestes que são vossos preconceitos, recalques, hábitos, costumes, condicionamentos, egoísmos, ambições ou desejos.

Toda vez que conseguirdes identificar um desses véus, ele cai por terra e conseguireis ver mais para dentro de vós mesmos. Com o psiquiatra chegareis a apenas ao ponto em que permanecereis nos condicionamentos de vosso ambiente, ou seja, com os véus que todos vossos vizinhos também possuem. Se trabalhardes por conta própria e examinardes um a um os véus dos desejos, ambições, condicionamentos, preconceitos, sem esforço, ireis jogando-os fora um a um até que estejais só Vós frente a Vós mesmos.

Enquanto seguirdes as ditas sociedades secretas em busca da perpetuação do vosso ego, em busca do poder e da riqueza, faltar-vos-á um véu a eliminar: o véu do egoísmo. Com ele não chegareis à Intuição, ao Amor Universal nem à Verdade. Enquanto seguirdes as religiões em busca da salvação pessoal, egoística, como passagem para o “céu”, tereis que nascer e renascer muitas vezes para poder libertar-vos um dia do último véu do ego. Enquanto lerdes esta mensagem em busca de solução externa, dada pelo guru, de nada vos há de servir porque a busca é interna. Lembrai-vos bem: o autoconhecimento é sem esforço e só pode ser feito por vós mesmos. O autoconhecimento liberta. Na medida em que vos conhecerdes, ficareis mais leves, pois estareis livres dos véus.

Adaptado do livro H’Sui Ramacheng de Mario Sanchez.

Sobre o Sofrimento

O sofrimento pode ter várias formas. Há o sofrimento da autocondenação, quando nos culpamos por algo que fizemos ou deixamos de fazer ou quando sentimos que não merecemos algo e perdemos a autoconfiança. Sentimos culpa e remorso. Há sofrimento na ansiedade, nas preocupações e no medo. Há sofrimento nas perdas, na tristeza, na humilhação, no desespero e na desesperança.

Nós podemos carregar esse tipo de sofrimento por muito tempo em nossas vidas, como se carregássemos um fardo pesado e muitas vezes desconhecido para nós mesmos. Uma dor física é um sintoma que mostra que algo não vai bem com o corpo. O sofrimento é um sintoma de que algo não vai bem com você.

Estar consciente enquanto você está experimentando situações de sofrimento é fundamental para poder trabalhar com suas emoções. A tendência natural do ser humano é fugir do sofrimento sempre que possível. Porém ao fugirmos, deixamos de perceber as oportunidades que teríamos de responder a esse sofrimento de outra maneira, ao invés de sermos apenas vítimas de nossas reações inconscientes. Quando negamos ou evitamos pensar sobre nossos sentimentos, acabamos reforçando nosso sofrimento.

O sofrimento está tentando nos contar alguma coisa. É como se fosse um mensageiro. O que sentimos quando sofremos deve ser reconhecido e vivenciado. Se tentarmos ignorar, represar, suprimir ou sublimar esses sentimentos, não conseguiremos resolvê-los e não alcançaremos a paz. A consciência de nossos sentimentos enquanto sofremos, tem em si a semente da cura. Aceitar esses sentimentos enquanto estão acontecendo, independentemente do que eles são, permite um ponto de vista mais abrangente.

É aceitar a responsabilidade de sentir o que você está sentindo naquele momento, porque isso é o que está acontecendo com você naquele instante da sua vida. Esses instantes de dor devem ser vividos intensamente assim como todos os outros instantes da nossa vida e eles podem realmente nos ensinar grandes lições, embora poucos de nós procuremos aprender voluntariamente.

Ter consciência do seu sofrimento permite a você agir ao invés de apenas ser vítima. Quando você observa sua mente rejeitando, negando, protestando, fantasiando ou mesmo acusando, você acaba se perguntando quem na verdade está sofrendo.

A consciência permite a você ver mais claramente a natureza da sua dor. Permite deixar de lado a confusão causada talvez por percepções errôneas ou exageros ou mesmo o desejo de que as coisas aconteçam do jeito que achamos que devem acontecer.

Do livro Full Catastrophe Living de John Kabat-Zinn

Vigilância, Compreensão, Atenção

Se soubésseis compreender, talvez pudésseis ter aproveitado os últimos seis mil anos de experiência com sessenta mil guerras e já saberíeis como evitá-las. Atenção é o elemento essencial para compreender. Prestar atenção é o primeiro segredo.

Vigilância é o melhor termo que nos convém.

Porém, se estiverdes atentos ao conflito que vai pelo mundo, a fome, a guerra, a doença, a competição, tudo formas e consequências de conflitos, vereis que se trata apenas da exteriorização de vosso próprio conflito interior.

Tudo se resume no egoísmo. Egoísmo individual, vosso e meu, eis a base do conflito. A esse egoísmo dais muitos nomes: luta pela vida, competição, religião, ideologia, nacionalidade.

Mas, como podeis vigiar, como podeis compreender todos os vossos conflitos interiores?

Pensais em enfadonhos exercícios, em concentrações profundas, em meditações prolongadas? Pensais em esforço?

Eis vosso engano. Compreender, estar atento, não se obtém com esforço. É no preciso instante em que deixais de fazer esforço que começais a compreender.

Observai vossas ações e vossos pensamentos (egoísmos, ambições, desejos, medos, etc.) sem procurar julgá-los, sem condenar, sem criticar, sem aprovar. Tomai apenas consciência do que está acontecendo.

Sois egoístas? Agistes com ambição? Sentis medo? Por favor, não procureis transformar vossos atos e pensamentos no oposto, pois continuareis em conflito, em outra posição, talvez maior ainda.

A compreensão se obtém sem julgar, sem condenar, sem aprovar. É vigilância passiva e sem qualquer esforço.

Ao usá-la, o compartimento de vossos conflitos e, portanto, o do mundo todo fica aberto e acessível a vossa observação.

Baseado no livro H’Sui Ramacheng de Mario Sanchez

A Consciência de Si

Você está caminhando na rua; você está consciente de muitas coisas: das lojas, das pessoas passando por você, do tráfego, de tudo. Você está consciente de muitas coisas, apenas de uma coisa você está inconsciente: de você mesmo!

Por exemplo, você está aqui. Você está me ouvindo, mas você não está consciente de quem está ouvindo, você não está consciente de si mesmo. Você pode estar consciente de quem está falando, mas você não está consciente daquele que está ouvindo. Esteja consciente de quem está ouvindo. Sinta a si mesmo aqui; você está aqui. Por um momento um vislumbre surge e novamente você se esquece. Tente.

O que quer que você esteja fazendo, continue internamente fazendo uma coisa sem interromper: esteja consciente de si mesmo ao fazer aquilo. Você está comendo: esteja consciente de si mesmo. Você está caminhando: esteja consciente de si mesmo. Você está ouvindo ou está falando: esteja consciente de si mesmo. Quando você estiver com raiva, esteja consciente de que você está com raiva. No exato momento em que a raiva estiver ali, esteja consciente de que você está com raiva.

Essa constante lembrança de si cria uma energia sutil. Normalmente, você não tem nenhum centro realmente – apenas uma liquidez, apenas uma frouxa combinação de muitas coisas sem qualquer centro – uma multidão, constantemente se modificando e se mudando, sem qualquer mestre interior.

Por consciência se quer dizer: seja um mestre! E quando eu digo ‘Seja um mestre’, eu não quero dizer seja um controlador. Quando eu digo ‘Seja um mestre’, eu quero dizer, seja uma presença – uma presença contínua.

O que quer que você esteja fazendo ou não fazendo, uma coisa precisa estar constantemente em sua consciência: que você é. Este simples sentir a si mesmo, sentir que se é, cria um centro – um centro de quietude, um centro de silêncio, um centro de mestria interior – um poder interno.

Se você começar a estar consciente, você começará a sentir uma nova energia em você – um novo fogo, uma nova vida.

Adaptado de texto de Osho.

Discurso de Nizan Guanaes na formatura da FAAP

Dizem que conselho só se dá a quem pede. E, se vocês me convidaram para paraninfo, sou tentado a acreditar que tenho sua licença para dar alguns. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns, que julgo valiosos.

Não paute sua vida, nem sua carreira, pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como conseqüência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser nem um grande bandido, nem um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou 6 milhões de judeus por dinheiro. Michelangelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar.

E tudo que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. A propósito disso, lembro-me uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: “Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo.” E ela responde: “Eu também não, meu filho”.

Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna. Meu segundo conselho: pense no seu País. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega viver como homens. Roubam, mas vivem uma vida digna de Odorico Paraguassu. Que era ficção, mas hoje é realidade, na pessoa de Geraldo Bulhões, Denilma e Rosângela, sua concubina. Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudiceia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito.

É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido. Tendo consciência de que, cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro.

Você foi criado, para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use Rider, não dê férias a seus pés. Não sente-se e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: eu não disse!, eu sabia!

Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem que agüentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta de noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansear, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 8 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio, e constrói prodígios.

O Brasil, este país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito que aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a 2ª maior megapotência do planeta.Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho. Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço, e só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E isso se chama sucesso.