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Qual é minha Responsabilidade?

Pelo que você deveria ser responsável em primeiro lugar? Sua primeira responsabilidade é pelo seu estado de consciência, que vai determinar que tipo de mundo você vai criar. Um estado de consciência doente ou disfuncional vai produzir um mundo doente ou disfuncional.

Seu estado de consciência determina que tipo de mundo você vai criar, que tipo de ações você vai tomar e que tipo de consequências essas ações terão. Então seu principal trabalho aqui é voltado para aquilo que causa os problemas do mundo: a sua mente.

Seu trabalho aqui é se tornar responsável pelo seu estado de consciência, agora. Agora. Qual é o seu estado de consciência neste momento? Você está gerando distúrbios? Negatividade? Conflitos? Sofrimento para você mesmo e para os outros? Você está gerando poluição dentro de você? Poluindo o maravilhoso ser que você é?

O movimento contínuo de pensamentos que produzem emoções desarmônicas produz uma entidade ilusória que você chama de Eu.

Tornar-se responsável implica em você se conscientizar que a responsabilidade deve ser assumida agora, neste instante. Se você quer um mundo diferente, então primeiramente a mudança deve ocorrer em você. Você precisa incorporar a mudança. E a mudança não é naquilo que você faz. A mudança é naquilo que você é. O que você faz é consequência disto. Mudar significa alterar seu estado de consciência. Esta é a sua responsabilidade uma vez que você tenha entendido isto.

Não importa que milhões de outros seres humanos ainda não tenham chegado a esse estado de consciência. Se eles ainda não chegaram a esse nível de consciência, não se pode esperar que eles sejam responsáveis. Se eles vivem inconscientemente, eles não sabem o que fazem e portanto não podem ser responsáveis. Não adianta você dizer que eles deveriam ser responsáveis. Simplesmente eles não podem ser responsáveis, porque são inconscientes.

Entretanto, mesmo que eles não sejam responsáveis porque não podem ser, isso não quer dizer que eles não sofram as consequências da sua inconsciência. Portanto eles geram sofrimento. E eventualmente pode ser que o sofrimento seja o gatilho que leve a uma expansão da consciência. 

Esse processo de expandir a consciência pelo sofrimento é lento e doloroso. A sua responsabilidade é encontrar os atalhos para uma consciência mais abrangente que acabe com o seu sofrimento.

Texto extraído e adaptado de palestra dada por Eckhart Tolle

O Caminho

Um dia um bezerro precisou atravessar uma floresta virgem para voltar ao seu pasto.


Sendo animal irracional, abriu trilha tortuosa, cheia de curvas, subindo e descendo colinas.


No dia seguinte, um cão que passara por ali, usou essa mesma trilha torta para atravessar a floresta.

Depois foi a vez de um carneiro, líder de um rebanho, que fez seus companheiros seguirem pela trilha torta. Mas não faziam nada para mudar a trilha torta.

Depois de tanto uso, a trilha acabou virando uma estradinha, onde os pobres animais se cansavam sob cargas pesadas, sendo obrigados a percorrer em três horas uma distancia que poderia ser vencida em no máximo uma hora, caso a trilha não tivesse sido aberta por um bezerro.

Muitos anos se passaram e a estradinha tornou-se a rua principal de um vilarejo, e posteriormente a avenida principal de uma cidade.

Logo a avenida transformou-se no centro de uma grande metrópole, e por ela passaram a transitar diariamente milhares de pessoas, seguindo a mesma trilha deixada pelo bezerro… centenas de anos antes.

Os homens tem a tendência de seguir como cegos por trilhas feitas por pessoas inexperientes, e se esforçam de sol a sol a repetir o que os outros já fizeram.

Contudo, a velha floresta ria daquelas pessoas que percorriam aquela trilha como se fosse um caminho único, sem se atrever a muda-lo.

A propósito, qual é o seu caminho?

Lembretes para a alma avançada

Lembre-se de onde veio, para onde vai e por que você criou a confusão em que se meteu. As perguntas mais simples são as mais profundas. Onde você nasceu? Onde é seu lar? Para onde vai? O que está fazendo?

Aprender é descobrir aquilo que você já sabe. Fazer é demonstrar que você o sabe. Ensinar é lembrar aos outros que eles sabem tanto quanto você. Você ensina melhor o que mais precisa aprender.

A sua única obrigação em qualquer vida é ser sincero consigo mesmo. Ser sincero com qualquer outra pessoa é impossível. Você está sempre livre para mudar de ideia e escolher um futuro, ou um passado diferentes. A verdade que você fala não tem passado nem futuro. É, e é tudo que precisa ser.

Não existe um problema que não ofereça uma dádiva para você. Você procura os problemas porque precisa das dádivas por eles oferecidas. Valorize suas limitações e, por certo, não se livrará delas. Nunca lhe dão um desejo sem também lhe darem o poder de realizá-lo. Você pode ter de trabalhar por ele, porém.

O laço que une a sua família verdadeira não é de sangue, mas de respeito e alegria pela vida um do outro. Raramente membros de uma família se criam sob o mesmo teto.

Imagine o Universo belo, justo e perfeito. Então tenha certeza de uma coisa: o Ser o imaginou bastante melhor do que você. O mundo é o seu caderno, as páginas em que você faz suas somas. Não é a realidade, embora você possa exprimir a realidade ali, se quiser. Você também liberdade de escrever tolices, ou mentiras, ou rasgar as páginas.

O pecado original é limitar o Ser. Não o faça. A sua consciência é a medida da honestidade do seu egoísmo. Cada pessoa e todos os fatos de sua vida ali estão porque você os pôs ali. O que fazer com eles cabe a você resolver.

Eis um teste para verificar se a sua missão aqui na Terra está cumprida: Se você ainda está vivo, não está. O que a lagarta chama de fim de mundo, o Mestre chama de borboleta.

Tudo neste texto pode estar errado!

Extraído do livro Ilusões de Richard Bach.

A Tartaruga Tagarela

Era uma vez uma tartaruga que vivia num lago com dois patos, muito seus amigos. Ela adorava a companhia deles e conversava até cansar.

A tartaruga gostava muito de falar. Tinha sempre algo a dizer e gostava de se ouvir dizendo qualquer coisa.

Passaram muitos anos nessa feliz convivência, mas uma longa seca acabou por esvaziar o lago.

Os dois patos viram que não podiam continuar morando ali e resolveram voar para outra região mais úmida. E foram dizer adeus à tartaruga.

– Oh, não, não me deixem! Suplicou a tartaruga. – Levem-me com vocês, senão eu morro!

– Mas você não sabe voar! – disseram os patos. – Como é que vamos levá-la?

– Levem-me com vocês! Eu quero ir com vocês! – gritava a tartaruga.

Os patos ficaram com tanta pena que, por fim, tiveram uma ideia.

– Pensamos num jeito que deve dar certo – disseram – se você conseguir ficar quieta um longo tempo. Cada um de nós vai morder uma das pontas de uma vara e você morde no meio. Assim, podemos voar bem alto, levando você conosco. Mas cuidado: lembre-se de não falar! Se abrir a boca, estará perdida.

A tartaruga prometeu não dizer palavra, nem mexer a boca; estava agradecidíssima! Os patos trouxeram uma vara curta bem forte e morderam as pontas; a tartaruga abocanhou bem firme no meio. Então os patos alçaram voo, suavemente, e foram-se embora levando a silenciosa carga.

Quando passaram por cima das árvores, a tartaruga quis dizer: “Como estamos alto!” Mas lembrou-se de ficar quieta. Quando passaram pelo campanário da igreja, ela quis perguntar: “O que é aquilo que brilha tanto?” Mas lembrou-se a tempo de ficar calada.

Quando passaram sobre a praça da aldeia, as pessoas olharam para cima, muito espantadas.

– Olhem os patos carregando uma tartaruga! – gritavam. E todos correram para ver.

A tartaruga bem quis dizer: “E o que é que vocês tem com isso?”; mas não disse nada. Ela escutou as pessoas dizendo:

– Não é engraçado? Não é esquisito? Olhem! Vejam!

E começou a ficar zangada; mas ficou de boca fechada.

Depois, as pessoas começaram a rir:

– Vocês já viram coisa mais ridícula? – zombavam.

E aí a tartaruga não aguentou mais. Abriu a boca e gritou:

– Fiquem quietos, seus bobalhões…!

Mas, antes que terminasse, já estava caída no chão. E acabou-se a tartaruga tagarela.

Moral da história: Há momentos na vida que é melhor ficar de boca fechada.

O Erro de Descartes

O filósofo do século XVII René Descartes, considerado o fundador da filosofia moderna, deu expressão a um erro fundamental com sua máxima (que considerou a verdade básica): “Penso, logo existo.”

Essa foi a resposta que ele encontrou para a pergunta: “Há alguma coisa que eu possa saber com certeza absoluta?”

Descartes compreendeu que o fato de estar sempre pensando estava além da dúvida, assim igualou o pensamento ao Ser, isto é: – o “eu sou” – ao pensamento. Em vez da verdade suprema, ele havia detectado a origem do ego, mas não sabia disso.

Passaram-se quase 300 anos antes que outro renomado filósofo francês visse algo naquela afirmação que Descartes, assim como todo mundo, não havia percebido. Seu nome era Jean-Paul Sartre.

Ele refletiu muito sobre a afirmação de Descartes “Penso, logo existo” e, de repente, compreendeu algo.

Em suas próprias palavras: “A consciência que afirma ‘eu sou’ não é a consciência que pensa.” O que ele quis dizer com isso? Quando estamos conscientes de que estamos pensando, essa consciência não faz parte do pensamento.

É uma dimensão diferente da consciência. E é essa consciência que diz “eu sou”.

Se não houvesse nada além do pensamento em nós, nem sequer saberíamos que pensamos. Seríamos como alguém que está sonhando e não sabe que está fazendo isso.

Estaríamos identificados com cada pensamento assim como aquele que sonha está vinculado a cada imagem no sonho.

Muitas pessoas vivem desse jeito, como se andassem nas nuvens, presas a antigos modelos mentais que recriam continuamente a mesma realidade de pesadelo.

Quando sabemos que estamos sonhando, é porque estamos despertos no sonho – outra dimensão da consciência se estabeleceu.

A implicação da percepção de Sartre é profunda, mas ele próprio ainda estava identificado demais com o pensamento para reconhecer o pleno significado do que descobrira: uma nova dimensão emergente da consciência.

Extraído do livro “O Despertar de uma Nova Consciência” de Eckhart Tolle

Macieira Encantada

Era uma vez um reino pobre, situado perto de uma grande montanha de difícil acesso. No alto dessa montanha havia uma Macieira Encantada, que produzia maçãs de ouro. O Rei do lugar resolveu oferecer um grande prêmio àquele que se que conseguisse trazer as maçãs, pois assim o reino estaria a salvo da pobreza. Apareceram três valorosos e corajosos cavaleiros dispostos a essa aventura tão difícil. Eles deveriam seguir separados e, por coincidência, havia três caminhos: 1º – rápido e fácil, onde não havia nenhum obstáculo e nenhuma dificuldade; 2º – rápido e não tão fácil quanto o primeiro, pois havia algumas situações a serem enfrentadas; 3º – longo e difícil, cheio de situações trabalhosas. Foi efetuado um sorteio. O primeiro sorteado escolheu, o Primeiro caminho. O segundo sorteado escolheu o Segundo caminho. O terceiro sorteado, sem opção, aceitou o Terceiro caminho.

O Primeiro, com muita facilidade, chegou rapidamente até a montanha e logo viu a macieira. O que ele não esperava, porém, é que ela fosse tão inatingível. As maçãs estavam em galhos muito altos. Não havia como subir. Ele não possuía nenhum meio de chegar até lá em cima. Acabou desistindo e retornou para o povoado. O Segundo enfrentou galhardamente a primeira situação com a qual se deparou, porém logo em seguida apareceu outra, e logo depois mais uma e mais outra. Como andava muito rápido, acabou ficando cansado e voltou para a aldeia. O Terceiro teve seu primeiro teste quando acabou sua água e ele chegou a um poço. Quando puxou o balde, arrebentou a corda e ele então, com suas ferramentas e alguns galhos, improvisou uma escada para descer até o poço e retirar a água para saciar sua sede. Resolveu levar a escada consigo e também a corda remendada. Percebeu que estava começando a gostar muito dessa aventura. Depois de descansar, seguiu viagem e precisou atravessar um rio com uma correnteza fortíssima. Construiu, então, uma pequena jangada e com uma vara de bambu como apoio, conseguiu chegar do outro lado do rio, protegendo assim sua mochila, seus agasalhos e todo o material que levava consigo para o momento que precisasse deles, incluindo a jangada. Num outro ponto do caminho ele teve de cortar o mato denso e passar por cima de grossos troncos. Com esses troncos ele fez rodas para facilitar o transporte do seu material, usando também a corda para puxar. E assim, sucessivamente, a cada nova situação que surgia, como ele não tinha pressa, calmamente, fazendo uso de tudo o que estava aprendendo nessa viagem e do material que, prudentemente guardara, resolvia facilmente a questão.

A viagem foi longa mas um dia chegou o momento esperado, quando ele se defrontou com a Macieira Encantada. Ele se pôs a trabalhar fazendo uso de todos os seus recursos. Transformou a jangada numa grande cesta, para guardar as maçãs, subiu na árvore, pela escada, usou o bambu para empurrar as maçãs mais altas e mais distantes. Depois de encher a cesta com as maçãs, e com a certeza de que poderia voltar ali quando quisesse por ser a Macieira pródiga, agradeceu a Deus por ter chegado, por ter conseguido concluir seu objetivo. Agradeceu principalmente a si mesmo pela coragem e persistência na utilização de todos os seus recursos, como inteligência e criatividade. Voltou pelo caminho mais fácil, levando consigo os frutos de seu trabalho e de seus esforços, frutos esses colhidos com muita competência e merecimento.

Descobriu, entre outras coisas que tudo que apareceu em seu caminho foi útil e importante para sua vitória. Cada uma das situações que resolveu, foi de grande aprendizado, não só para aquele momento, mas também para vários outros na sua vida futura. Descobriu que o trabalho feito com prazer aumenta as chances de sucesso e que quando o objetivo vale a pena, não há nada que o faça desistir no meio do caminho.

O Jardineiro Consciente

Cada uma de nossas aflições, cada pensamento inadequado ao nosso bem estar, contem também os elementos que nos permitem transforma-los. Nossa raiva contém todos os fatores que a fizeram se manifestar. Se a nossa raiva não contivesse também os elementos de transformação, como poderíamos transformar a raiva em não raiva?

Em nosso solo temos muitas flores perfumadas. Um jardineiro hábil não joga fora o lixo da cozinha, mas transforma-o em fertilizante. Com o passar do tempo, o lixo se transformará numa bela cesta de frescos vegetais verdes. Se soubermos como fertilizar nossas aflições, nosso egoísmo, nosso ódio, nossa ignorância, nosso orgulho, nossas dúvidas, nossos pontos de vista, nossa agitação, nosso torpor e nossa inconsciência, nós poderemos transforma-los em paz, alegria, liberdade e felicidade.

Não é necessário você jogar fora coisa alguma na sua vida. De fato não há nada que possamos jogar fora. Se nós pudéssemos nos livrar de algo, nós teríamos que nos livrar de tudo, porque o todo está na parte.

Quando entramos na cozinha num dia de inverno, nos sentimos aquecidos e confortáveis. Nossa sensação de calor e conforto não se deve ao forno da cozinha, mas sim ao frio do lado de fora. Se a temperatura do lado de fora não fosse tão baixa, nós não sentiríamos conforto ao entrar numa cozinha aquecida.

Sentimentos agradáveis são originados de sentimentos desagradáveis. Sentimentos desagradáveis são originados de sentimentos agradáveis. Um pensamento contem todos os outros pensamentos. Cada semente contem todas as outras sementes. A semente da raiva contem dentro dela a semente do amor. A semente da ilusão contem dentro dela a semente da iluminação.

Quando transformamos nossa inconsciência em consciência, nós vemos que não há nada a ser rejeitado ou descartado. Um jardineiro consciente da realidade não jogará fora seu lixo. Ao olhar o lixo, ele verá belos pepinos, alfaces e flores, porque sabe que o lixo pode ser transformado em fertilizante para o seu jardim. Quando transformamos nossas aflições e as usamos como fertilizante, as flores da alegria, paz, liberdade e felicidade crescerão.

Precisamos aceitar aquilo que é aqui e agora, incluindo nosso sofrimento e desilusão. Flores e lixo, ambos existem no presente, aqui e agora. As condições para a iluminação também existem aqui e agora, no presente. Olhando profundamente a natureza do sofrimento e transformando essa energia do sofrimento, poderemos permitir que a energia da felicidade e da paz se manifeste em nós.

Do livro Transformation at the Base de Thich Nhat Hanh

A Conferência dos Pássaros

Os pássaros do mundo encontram-se para uma conferência. Uma poupa* se levanta e dirigindo-se à multidão com autoridade natural, sugere que o que falta aos pássaros é um líder espiritual, um Simorgh, para lhes mostrar uma alternativa. Todos devem voar em busca do Simorgh.

Mas muitos pássaros desanimam diante da perspectiva de uma longa e árdua busca. Os falcões preferem o poder de príncipes terrenos; as garças, sua praia desolada; os patos o seu lago acolhedor. Os pintassilgos temem pela sua fragilidade, e os rouxinóis por seu canto.

Mas um grupo parte, atravessando sete vales: o Vale da Busca, o Vale do Amor, o Vale da Percepção do Mistério, o Vale do Desapego, o Vale da Unidade, o Vale da Perplexidade e o Vale da Pobreza e do Nada. Em cada vale eles enfrentam perigos, vicissitudes e tentações e ouvem histórias de personagens exemplares.

Um deles é Sócrates que responde aos discípulos que lhe perguntam onde devem enterrá-lo: “Se vocês me encontrarem é porque são com certeza inteligentes, porque eu nunca me encontrei”.

Quando os pássaros finalmente chegaram à corte de Simorgh, só trinta deles sobreviveram e estão velhos, cansados, desgrenhados e imundos. Um arrogante arauto do palácio surge e desdenhoso de sua aparência surrada, lhes diz que são indignos e devem voltar para o lugar de onde vieram.

Mas os pássaros insistem e são finalmente admitidos. O palácio é de fato glorioso, mas está vazio, a não ser pelos espelhos.

Eles voam de um lado para outro, frustrados e deprimidos por terem vindo de tão longe e suportado tanto para nada. Mas, pouco a pouco, um estranho sentimento de alegria toma conta dos pássaros.

De repente eles percebem o significado dos espelhos. Afinal tinham encontrado Simorgh. Estavam vendo Simorgh nos espelhos, porque eles eram Simorgh. Simorgh era eles.

*Poupa é uma ave de médio porte.

Texto de Michael Foley no livro a Era da Loucura, baseado em um poema sufi do século 12 escrito por Farid Ud-Din Attar.

Carta Sobre a Felicidade

Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito.

Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz.

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações.

Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada pra nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos.

A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui.

Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida.

E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz.

Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca e o ser vivo não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito.

É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha e toda recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advém efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.

Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser sempre evitadas.

Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

Consideramos ainda a autossuficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.

Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.

De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade.

Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade e a felicidade é inseparável delas.

Medita, pois, todas estas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais.

Resumo da Carta Sobre a Felicidade, de Epicuro a Meneceu

A Coragem de Experimentar

Um rei submeteu sua corte à prova para preencher um cargo importante.

Um grande número de homens poderosos e sábios reuniu-se ao redor do monarca.

“Ó vós, sábios”, disse o rei, “eu tenho um problema e quero ver qual de vós tem condições de resolvê-lo.”

Ele conduziu os homens a uma porta enorme, maior do que qualquer outra por eles já vista.

O rei esclareceu:

“Aqui vedes a maior e mais pesada porta de meu reino. Quem dentre vós pode abri-la?”

Alguns dos cortesãos simplesmente balançaram a cabeça. Outros, contados entre os sábios, olharam a porta mais de perto, mas reconheceram não ter capacidade de fazê-lo.

Tendo escutado o parecer dos sábios, o restante da corte concordou que o problema era difícil demais para ser resolvido. Somente um único vizir aproximou-se da porta.

Ele examinou-a com os olhos e os dedos, tentou movê-la de muitas maneiras e, finalmente, puxou-a com força.

E a porta abriu-se.

Ela tinha estado apenas encostada, não completamente fechada, e as únicas coisas necessárias para abri-la eram a disposição de reconhecer tal fato e a coragem de agir com audácia.

O rei disse:

“Tu receberás a posição na corte, pois não confias apenas naquilo que vês ou ouves; tu colocas em ação tuas próprias faculdades e arriscas experimentar.”

Extraído de: O Mercador e o Papagaio – Nossrat Peseschkian