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A felicidade pode ser encontrada através de alguma coisa?

A mente não pode encontrar a felicidade. A felicidade não é uma coisa a ser perseguida e encontrada, como a sensação. A sensação pode ser encontrada vezes e mais vezes, porque está sempre sendo perdida; mas a felicidade não pode ser encontrada.

A felicidade relembrada é só uma sensação, uma reação a favor ou contra o presente. O que está acabado não é felicidade; a experiência de felicidade que está acabada é sensação, pois lembrança é o passado e o passado é sensação. Felicidade não é sensação.  

O que você conhece é o passado, não o presente; e o passado é sensação, reação, memória. Você lembra que foi feliz; e pode o passado dizer o que é felicidade?

Ele pode lembrar, mas não pode ser.

Reconhecimento não é felicidade; saber o que é ser feliz, não é felicidade. Reconhecimento é a resposta da memória; e pode a mente – o complexo de memórias, experiências – ser feliz?

O próprio reconhecimento impede o experimentar. Quando você está cônscio de que está feliz, existe felicidade? Quando há felicidade, você está cônscio dela? A consciência só surge com o conflito; o conflito da lembrança do mais. Felicidade não é a lembrança do mais.

Onde existe conflito, a felicidade não está. Conflito é onde a mente está.

O pensamento, em todos os níveis, é a resposta da memória e assim, invariavelmente, nasce o conflito. Pensamento é sensação e sensação não é felicidade. As sensações estão sempre buscando gratificações.

O fim é sensação, mas a felicidade não está no fim; ela não pode ser buscada. Nós buscamos felicidade através de coisas, relações, pensamentos, ideias. Então as coisas, a relação e as ideias se tornam mais importantes que a felicidade.

Quando você busca felicidade através de uma coisa, então a coisa se torna de maior valor que a própria felicidade.

Quando apresentado desta maneira, o problema parece simples e é simples. Buscamos felicidade na propriedade, na família, no nome; então propriedade, família, ideia se tornam o mais importante, porque assim a felicidade é buscada através de um meio, e o meio destrói o fim.

Pode a felicidade ser encontrada através de algum meio, através de alguma coisa feita pela mão ou pela mente?

Coisas, relação e ideias são muito visivelmente inconstantes; ficamos sempre infelizes por elas. As coisas são inconstantes, elas se gastam e se perdem; relação é constante atrito e a morte aguarda; ideias e crenças não têm estabilidade nem permanência.

Buscamos felicidade nelas e, contudo, não percebemos sua inconstância. Assim, o sofrimento se torna nossa companhia constante e, superá-lo, nosso problema. Para descobrir o verdadeiro significado da felicidade, devemos explorar o rio do autoconhecimento. O autoconhecimento não é um fim em si mesmo. Existe uma fonte para uma correnteza? Cada gota de água do início ao fim faz o rio. Imaginar que vamos encontrar felicidade na fonte é estar enganado.

Ela é para ser encontrada no ponto em que você está no rio do autoconhecimento. Podemos sair de um refinamento para outro, de uma sutileza para outra, de uma satisfação para outra, mas no centro de tudo isto está o “eu”; o “eu” que está se satisfazendo, que quer mais felicidade; o “eu” que procura, busca, deseja felicidade; o “eu” que luta; o “eu” que se torna mais e mais refinado, mas não gosta de chegar a um fim. Só quando o “eu”, em todas as suas formas sutis, chega a um fim, há um estado de alegria que não pode ser buscado; um êxtase, um contentamento real sem dor, sem corrupção.

Quando a mente vai além do pensamento do “eu”, do experimentador, do observador, do pensador, então existe a possibilidade de uma felicidade não corruptível. Essa felicidade não pode ser permanente, no sentido em que usamos essa palavra. Mas nossa mente busca felicidade permanente, alguma coisa que vá durar, que continuará. Esse próprio desejo de continuidade é corrupção. Se pudermos compreender o processo da vida sem condenar, sem dizer que está certo ou errado, então
acho que surge uma felicidade criativa que não é “sua” ou “minha”.

Essa felicidade criativa é como o brilho do sol. Se você quiser manter o brilho de sol para você mesmo, não é mais o sol claro e quente que dá vida. Do mesmo modo, se você quer felicidade porque está sofrendo, ou porque perdeu alguém, ou porque não teve sucesso, então isso é meramente uma reação. Mas quando a mente pode ir além, então existe a felicidade que não está na mente.

Extraído do livro The Book of Life de J. Krishnamurti

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